segunda-feira, 27 de abril de 2009

22/01/2009 - Opinião ‘Tempo de Violência - Pulp Fiction’

“Deixa, deixa, deixa, eu dizer o que penso desta vida, preciso demais desabafar.” Uma letra muito boa de um rap (ritmo e poesia), acredito eu, mesclado com um estribilho em ritmo de samba que está tocando nas rádios e que lembra os cidadãos de suas responsabilidades em cobrar das autoridades mais decência nesse nosso mundo perdido em violência. Sete ocorrências graves, de assalto à mão armada e invasão de residências na nossa querida cidade de Bauru na última noite de Réveillon. Uma cidade que até pouco tempo se falava menos sobre a violência. Com esse cenário, viramos a página de mais um ano. É triste verificar que o medo aumenta a tensão nos lares de Bauru; de idosos que residem sozinhos não terem mais a liberdade que tinham de poder ficar tranqüilos em suas próprias casas. A lógica fora invertida. Quem se torna prisioneiro são as pessoas de boa índole, escondidas de malfeitores que desejam a infelicidade alheia. Quando criança, sempre defendia - pelo menos em pensamento - o direito dos aprisionados, acreditando na injustiça que o mundo lhes causara.

Há poucas semanas encontrei o filme que tanto procurava para adquiri-lo; “Tempo de Violência”, do diretor americano Quentin Tarantino, que se tornou um dos diretores mais conhecidos de Hollywood modernamente por ter aprendido a fazer cinema vendo filmes numa locadora que trabalhava. Quis muito rever a cena com o galã John Travolta e sua última aparição no cinema, dançando, assim como construiu sua carreira empolgando toda uma geração. Mas que nada! Não consegui chegar até o fim do filme. Era muita violência em cada capítulo. Pouca dança e muito sangue. Percebi que não era mais aquela jovem que encarava com tanta facilidade as artimanhas do mundo. Não consegui, até agora, retomar de onde parei no capítulo onde o galã mata a queima roupa no banco de trás do carro em movimento um adolescente traficante. Brinco que o filme é proibido para menores de 18 anos e maiores de 60. Não deixei minha mãe ver. Ela queria tanto assistir a um bom filme de ação.

Imediatamente, me veio aquele velho questionamento. ‘Por que os meios de comunicação transmitem tanta violência; por que ela é tão retratada na mídia’? - porque esta comunicação é gerada sob o ponto de vista do produtor. Então me atenho com a velha resposta, óbvia para uma professora de Comunicação Social: porque o público se interessa. Se este público não se interessasse, não haveria comércio. E então me perguntei, novamente! Mas por que o público se interessa? E respondi a mim mesma: porque falta muita criatividade
na TV e no Cinema de forma que os formadores de opinião consigam transmitir muito mais tudo de bom como forma de entretenimento e muito menos tudo de ruim. Porque falta vontade política para regulamentarmos melhor os conteúdos em canais abertos e diversas produções para que não tenhamos tantos exemplos de pouca criatividade - o que não é o caso deste filme, muita falta de decência e muito desrespeito para com a vida alheia. Porque o que não existe, a gente inventa. Registro: o filme causou muita controvérsia, como por exemplo, se para falar sobre a banalização da violência é preciso mostrá-la como se faz.


A autora, Adriana Nigro Cardia, é jornalista e mestra em Ciências da Comunicação pela USP - e-mail: Adriananigro2002@yahoo.com.br. Fonte Jornal da Cidade - Bauru.


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